domingo, 1 de março de 2009

Alphonsus de Guimarães

Não sei bem porquê mas, desde minha adolescencia, quando tive os primeiros contatos com a literatura...quero dizer com as aulas de literatura; pois ler eu sempre li, e quando ainda não sabia, minha mãe o fazia para mim; eu me recordo desse poema "Ismália". Sempre fiquei imprecionada, com os poetas que falam da loucura e da morte, com facilidade e beleza.

Talvez por ser a morte tão definitiva e eu não estar preparada para ponto final. Aliás, escrevo com muitas reticências(...) acho que sempre estou pensando em continuar alguma coisa, até porquê meus pensamentos (e acho que de todos) não param nunca. Minha cabeça vive num eterno turbilhão...ah! No turbilhão de pensamentos, até já pensei que talvez estisse ficando louca...mas como de "médico e louco todos temos um pouco"(diz o dito popular...outro dito popular...rs)convivo muito bem com a minha doideira...rsrsrs.

Voltando a Ismália, sempre tive muita pena da coitada, que acaba caindo no mar. O poema é muito bonito, embora de um final trágico. Então aí vai u8ma pequena biografia do poeta Alphonso Guimarães e sua Ismália.

Poeta em que devoção e equilíbrio se dão as mãos desde o início, Alphonsus de Guimaraens foi mestre de um lirismo místico, em que busca e sublima a amada entre o luar e as sombras, o amor e a morte. Afonso Henriques da Costa Guimarães nasceu em Ouro Preto MG em 24 de julho de 1870. Estudou engenharia e direito. Apaixonou-se por sua prima Constança, que morreu logo depois. Em São Paulo, colaborou na imprensa e freqüentou a Vila Kyrial, de José de Freitas Vale, onde se reuniam os jovens simbolistas. Em 1895, no Rio de Janeiro, conheceu Cruz e Souza. Foi juiz e promotor em Conceição do Serro MG. De seus livros, os três primeiros foram publicados no mesmo ano (1899): Dona mística, Câmara ardente e o Setenário das dores de Nossa Senhora. Foi escrito antes, no entanto, o Kyriale (1902), sua coletânea mais representativa. Seguiram-se Pauvre lyre e Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923). Um dos principais representantes do movimento simbolista no Brasil, sua obra, de influência francesa (Verlaine, Mallarmé -- que traduziu), adquire com freqüência acentos arcaizantes e de envolvente conteúdo lírico, uma vez que o exprime num misticismo enraizado no fundo da subjetividade e, desse modo, como uma compulsão do inconsciente. Em ritmo elegíaco e de solene musicalidade, multiplica a imagem da amada: são "Sete damas", são "As onze mil virgens", Ester, Celeste, Nossa Senhora (com quem identifica Constança), ou a célebre "Ismália". Oscila, assim, entre os indícios materiais da morte e a expectativa do sobrenatural, como se toda a sua poesia se fizesse em variações de um mesmo réquiem. Mas a evolução da linguagem é permanente e a tendência a um barroco discreto -- de Ouro Preto, Mariana -- se flexibiliza, se inova com acentos verlainianos, mallarmaicos, de que brotam imagens muitas vezes ousadas, não longe da invenção surrealista. Alphonsus de Guimarães morreu em Mariana MG em 15 de julho de 1921.


Ismália



VII


Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,

Banhou-se toda em luar...

Queria subir ao céu,

Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,

Na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu,

Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu

As asas para voar...

Queria a lua do céu,

Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...

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